sábado, 16 de novembro de 2013

Como doze freguesias se tornaram uma

de Catarina Sampaio Rolim e Catarina Durão Machado, Revista 2, 15 setembro 2013

A original designação da Sé de Lisboa dá nome a uma das novas freguesias da capital: Santa Maria Maior. A maior fusão a nível nacional agrega 12 juntas do centro histórico. O que vai mudar?
À porta do n.º 116 da Rua dos Remédios, em Alfama, Mário Soares de Almeida espreita o movimento. Os seus óculos de lentes grossas denunciam as grandes dificuldades de visão do comerciante de 86 anos. Está emoldurado pelos panos de cozinha que tem pendurados à porta da sua loja e que exibem galos de Barcelos em cores diferentes.
A rua é uma das fronteiras entre a futura freguesia de Santa Maria Maior e de São Vicente. Mas do traçado, Mário Soares de Almeida pouco sabe. Diz apenas que os candidatos já por ali passaram a distribuir folhetos. Recorda-se que um deles tem um mapa e vira as costas para o procurar. "Esse senhor parece que é o chefe que vai juntar as freguesias. Ora leia", diz o lojista, entregando uma folha dobrada em três. Confirma-se que o candidato do PS já por ali passou e deixou mapas para a população se orientar.
A partir de 29 de Setembro, 12 das mais antigas freguesias de Lisboa e do país deixarão de existir para se fundirem numa só: Mártires, Sacramento, Madalena, Santa Justa, Sé, Santiago, São Cristóvão e São Lourenço, Castelo, Socorro, São Miguel, São Nicolau e Santo Estêvão. A maioria está situada nos bairros de Alfama e da Mouraria, duas no Chiado e três abarcam a totalidade da Baixa Pombalina. Com a nova freguesia, serão 11 cargos de presidente de junta que deixarão de existir também. A concorrer ao lugar de comando em Santa Maria Maior estão Lurdes Pinheiro, da CDU, actual presidente da Junta de Freguesia de Santo Estêvão (Alfama), António Manuel, através da coligação PSD/CDS/MPT, e que preside a autarquia de São Nicolau (Baixa), e o socialista Miguel Coelho, deputado municipal.
É a maior agregação de freguesias em Portugal, mas nem por isso será uma megafreguesia, até porque o número de eleitores - 13 mil - continuará a ser baixo, comparado com o de Marvila, com mais de 36 mil. Geograficamente, também não será a maior - Olivais e Benfica são as mais extensas. Mas é a que concentra mais património histórico e, por consequência, mais turismo. Não só nas praças - Terreiro do Paço, Rossio, Praça da Figueira, Restauradores, Martim Moniz, Largo do Município - como nos bairros antigos, sobretudo Mouraria, Sé e Alfama.
O espaço a que corresponde Santa Maria Maior testemunhou o nascimento e a evolução da cidade de Lisboa. Fenícios, romanos, visigodos, muçulmanos e cristãos moldaram, ao longo de mais de 2500 anos, o espaço que viria a ser a capital portuguesa, cujo acesso ao rio traria recursos naturais, comércio e uma posição geoestratégica que permitiu que as principais estruturas de apoio aos descobrimentos se implantassem ali. Lisboa cresceu, assim, em torno da colina do Castelo. Os seus limites seriam assegurados ora pela cerca moura (construída por volta dos séculos IV ou V) ora pela muralha fernandina (século XIV) - que acabará por delinear as fronteiras do que será hoje Santa Maria Maior.
Segundo o geógrafo João Seixas, a capital mudou muito nos últimos 30 anos. "O centro histórico de Lisboa tem sido despovoado [devido] à dispersão urbanística", comenta à Revista 2. Mas Santa Maria Maior será "uma freguesia de diversidade", afirma. "É muito importante que cada bairro de Lisboa, incluindo a própria Baixa, tenha diferentes classes sociais, etárias e económicas... A maior riqueza de qualquer cidade é a sua diversidade."
A pedido do presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), António Costa, João Seixas coordenou, juntamente com o investigador Augusto Mateus, o estudo Qualidade de Vida e Governo da Cidade (2010). Os inquéritos indicaram que 82% da população estava de acordo com a reforma das freguesias lisboetas. "Segundo o inquérito que fizemos, quase ninguém estava satisfeito com o seu governo de proximidade... Há uma fraquíssima identificação dos lisboetas com as suas actuais freguesias", continua João Seixas.
A lei da Reorganização Administrativa de Lisboa (apresentada pelo PSD e PS) foi assim promulgada em Novembro do ano passado, 54 anos após a última reforma do género na cidade (mas em sentido inverso), que aumentava de 43 para 53 as freguesias lisboetas. A partir das próximas eleições autárquicas, a 29 de Setembro, serão reduzidas para 24 - um número só comparável ao verificado em meados do século XVI. O que justifica uma lei própria para Lisboa, face à reorganização administrativa nacional, são as condições específicas da capital enquanto grande área urbana - tal como estabelece a Constituição.
O encolhimento de 53 para 24 destas autarquias locais resulta sobretudo de um critério demográfico que visa equilibrar o número de população residente em cada freguesia, permitindo uma acção autárquica mais eficaz. Ou seja, já não fará sentido manter uma freguesia com menos de 400 eleitores, como a dos Mártires (a mais antiga da Lisboa cristã), quando existem freguesias com mais de 36 mil eleitores.
Não é isso que pensa Luísa Silva, de 69 anos, moradora em Alfama. "Para mim, vai ser sempre freguesia de Santo Estêvão", afirma, apoiada numa canadiana, dentro da loja de flores do n.º 79 da Rua dos Remédios. Precisa de parar para descansar enquanto sobe a rua, e aproveitou para pôr a conversa em dia com a florista, Ermelinda Carapinha, de 49. Já ouviram falar da nova freguesia e confirmam que os moradores estão apreensivos com a mudança. Ouvem dizer que vão ficar sem os serviços da actual junta, sem a carrinha que transporta os velhotes, sem a sua presidente mesmo ali ao pé. Luísa Silva está inconsolável: "Que juntassem São Miguel e Santo Estêvão ainda concordo, agora juntar-nos lá para a Sé..."
O principal objectivo da nova reorganização administrativa de Lisboa passa por uma transferência de competências da câmara para as freguesias. De acordo com o estudo encomendado pela CML há quatro anos, são essas competências que vão passar a dotar as autarquias de um maior poder e autonomia na implementação de serviços. Ao fazê-lo, a CML terá de transferir orçamento, meios técnicos e humanos proporcionais à soma das freguesias agregadas. Simultaneamente, o objectivo será também o de reorganizar as funções internas da câmara.
Para João Seixas, é necessário "aproximar os espaços políticos de Lisboa dos espaços das questões", ou seja, reforçar a proximidade entre eleitores e eleitos, contribuindo para a eficácia do poder local. O que poderá levar o seu tempo. Com base no exemplo europeu, o académico esclarece que este processo de delegação de competências pode demorar o equivalente a "dois ou três mandatos", isto é, oito ou 12 anos.
Ainda é cedo para determinar com certeza o que vai mudar na nova freguesia. A CML distribuiu por todas as 53 freguesias lisboetas pequenos guias com informações sobre as alterações que as eleições vão trazer a Lisboa, sobretudo no que às novas competências das juntas diz respeito. Mas a florista Ermelinda Carapinha acusa: "Isto não vai ser uma junta de freguesia, vai ser uma minicâmara."
Em Alfama, pouco importa para a população se as ruas vão passar a ser lavadas por pessoal da junta ou da câmara, ou se será preciso pedir uma licença num sítio ou no outro. São os serviços a que as pessoas se habituaram que mais preocupam os habitantes destes bairros, onde as colinas íngremes e estreitas impossibilitam a existência de uma rede de transportes públicos. Em freguesias como Castelo, Santiago ou São Miguel, nas quais praticamente um terço da população é idosa, muitos dos habitantes contam com o apoio das suas juntas de freguesia, que pode traduzir-se em postos de enfermagem, consultas de dentista, assistência social ou numa carrinha que transporta os idosos para o centro de saúde. E Luísa Silva sente o receio de perder tudo isso: "Tiraram os correios daqui e agora tiram a junta de freguesia, fica aqui um bairro sem coisa nenhuma, só de velhos. Sentimo-nos abandonados."
O orçamento previsto para cada uma das novas 24 freguesias também é um dos pontos que suscitam dúvidas na reorganização administrativa: mais de 4.930.000 euros é quanto está destinado a Santa Maria Maior para o primeiro ano de mandato, quando a limítrofe freguesia da Misericórdia (que juntará Encarnação, Mercês, Santa Catarina e São Paulo) recebe quase menos dois milhões de euros para um número muito próximo de 13 mil eleitores. De todas as freguesias de Lisboa, Santa Maria Maior é a que recebe mais dinheiro.
A candidata pela CDU, Lurdes Pinheiro, não compreende o critério de uma distribuição que lhe parece injusta. "Se for para intervir como deve ser, o dinheiro não chega. Precisávamos de três vezes mais", aponta.
António Manuel, candidato do PSD, avalia que o total "está perfeitamente ao alcance", até porque acredita que uma boa gestão não precisa de muito dinheiro e é isso que tem feito ao leme da Junta de São Nicolau, nos últimos oito anos. Miguel Coelho (PS) também concorda com o valor e justifica-o: por um lado, a "centralidade" da freguesia agregadora, que tem as praças mais emblemáticas, o que também "encarece o resultado final em termos de manutenção". Por outro, uma "população flutuante muito próxima do meio milhão de pessoas" também desgasta o espaço público, originando despesa.
Nas suas intenções, os três principais candidatos divergem em alguns pontos, mas são unânimes ao reiterarem que a proximidade é a maior preocupação de uma junta de freguesia. Uma das formas de se se salvaguardar essa relação é mantendo os funcionários que trabalham para as 12 juntas. "As pessoas têm de ficar com a sua ligação no bairro. É com eles [os funcionários] que falam todos os dias", defende Lurdes Pinheiro, a presidir a Santo Estêvão há 12 anos. António Manuel e Miguel Coelho concordam. "Aquela relação de proximidade, física até, na nova freguesia de Santa Maria Maior não se vai perder", afirma o candidato socialista.
António Manuel assegura que pretende conservar os postos de trabalho, mas já Lurdes Pinheiro questiona o realismo da medida: "E depois, vindos os funcionários da câmara, como é que vai ser?" E teme que as juntas não tenham voto na matéria quanto à transferência dos recursos humanos. Contudo, manter os funcionários do quadro de todas as autarquias é uma garantia legal e um respirar de alívio para muitos fregueses. Miguel Coelho afirma: "Todos eles serão úteis e terão que fazer."
Uma funcionária de uma das 12 juntas, que pediu para não ser identificada, confessa que não está com medo de perder o emprego, mas que ainda assim a assusta a indefinição de não saber onde vai trabalhar, com quem e se perderá o estatuto que entretanto adquiriu no local onde trabalha há mais de 25 anos. "Aqui faço de tudo um pouco, apesar de pertencer ao pessoal da limpeza. Em Santa Maria Maior, de certeza que não me vão pôr atrás de um computador ou a atender telefones."
Com a manutenção de tantos funcionários, resta também saber se as instalações das antigas juntas se vão manter abertas e, com elas, os serviços que são prestados. É uma decisão que pode afectar não só os residentes, mas também os que trabalham naquelas zonas, sobretudo na Baixa e no Chiado, e que contam com os ATL das juntas para deixar os filhos depois da escola, situação que acontece, por exemplo, na Junta de Freguesia dos Mártires, cuja população flutuante é sobretudo de trabalhadores na área. Para além disso, há um conjunto de actividades que são desenvolvidas pela junta, como desporto, línguas ou informática, que podem estar em risco.
Mas pelo menos durante um ano é certo que irão manter-se abertas as actuais instalações das juntas, nem que seja como delegações da futura freguesia. Esta foi uma decisão unânime da comissão instaladora, formada pelos 12 actuais presidentes e que se tem vindo a reunir ao longo dos últimos seis meses para preparar a transição. Quem não participa nas reuniões quinzenais da comissão é Miguel Coelho, que não preside a nenhuma junta. Mas não está preocupado, até porque é regularmente informado pelos seis presidentes do PS que têm assento na comissão instaladora. Conhece portanto o "ritmo de trabalho" e o que "vai sendo discutido", assegurando que, na sua experiência de deputado municipal, nada lhe "é estranho do que acontece numa junta de freguesia".
A cargo da comissão instaladora está também a definição do local da sede da freguesia, embora esta não seja uma questão consensual entre os candidatos. A candidata da CDU vê o funcionamento da futura sede como "uma espécie de pequena Loja do Cidadão", mas nada adianta sobre o local, tal como António Manuel, que desvaloriza a questão por ser "uma sede administrativa". O local mais provável é o edifício do Elevador do Castelo, na Rua dos Fanqueiros (inaugurado no dia 31 de Agosto). "O presidente da câmara já tinha falado nisso informalmente. Pessoalmente, acho muito bem", afirma Miguel Coelho, o candidato socialista.
A localização da sede não é um detalhe para a população. Luísa Silva aponta para a sua canadiana e deixa o recado: "Se tiver de ir votar à Sé, não vou de certeza! Não vou eu nem vai a grande maioria das pessoas de Santo Estêvão."
Há muitas mourarias", diz-nos Pedro Santa Rita, da Associação Renovar a Mouraria, num passeio pelas ruas onde o fado nasceu. O bairro foi-se desenvolvendo ao longo dos séculos, criando zonas com tradições históricas diferentes: a "baixa Mouraria" pertence à freguesia do Socorro; a "alta Mouraria" a São Cristóvão e São Lourenço (onde se instalou uma população a viver à sombra de grandes palacetes); o Martim Moniz e a Rua da Palma - zonas mais comerciais - pertencem a Santa Justa. Outras franjas do bairro abrangem ainda as freguesias da Madalena, Graça e Anjos.
Na esplanada d"A Parreirinha, Vitorino Silva, de 62 anos, e Emílio Castro, de 61, vêem os turistas passar pela Rua da Guia. Vitorino defende: "O problema está na descredibilização da classe política aos olhos do povo." Admite que no fim das campanhas eleitorais, a distância entre eleitos e eleitores acentua-se e, talvez por isso, "a maior parte das pessoas na Mouraria" não ligue "nenhuma à nova freguesia". Emílio concorda com Vitorino quanto ao alheamento dos moradores: "Se perguntarem à maior parte das pessoas do bairro quem é a presidente da junta de freguesia, ninguém conhece."
Em freguesias como Socorro, onde 40% da população residente é de naturalidade estrangeira, ou Santa Justa, onde chega aos 35%, o risco de abstenção é elevado, já que os imigrantes só poderão votar nas autárquicas se tiverem visto de residência e se houver reciprocidade no país de origem (ou seja, se os portugueses puderem votar nesses países). Também os jovens que já nasceram no bairro não têm por hábito ir às urnas. "80% da juventude não vota, eu sei porque costumo ir para as mesas de voto", conta Emílio. O morador reconhece que a gente do bairro tem uma maior proximidade com Pedro Santa Rita e Inês Andrade, da Renovar a Mouraria - projecto iniciado em 2008 para reabilitar o bairro -, do que com as instâncias políticas.
N"A Parreirinha, a proprietária Cristina Correia, 44 anos, passa os dias a cozinhar. De avental sujo e vozeirão potente, baixa o tom de voz para dizer: "Eu concordo com a junção das freguesias, não concordo num âmbito tão grande. Se tivessem juntado uns bairros mais pequenos, teria sido melhor." Uma Junta de Freguesia da Mouraria faria mais sentido? "Com esse nome ou outro, tanto faz, o que acontece é que eu acho que davam mais atendimento a esta zona toda", conta. "É que no fim de contas os gastos são sempre os mesmos. A única coisa que vai deixar de haver é tantos presidentes", afirma Cristina.
O bairro é uma amálgama de habitantes que já nasceram na Mouraria - ou que lá se instalaram há décadas -, de imigrantes (asiáticos, africanos e europeus), mas também de uma população mais jovem, que escolheu o bairro pela centralidade e rendas mais baixas do que noutras zonas da cidade.
Cláudia Castelo, 41 anos, trabalha num atelier de design. Mudou-se há sete anos para a Freguesia do Socorro. Acreditou que a zona estava a mudar e quis fazer parte dessa transformação. Hoje, reconhece que a presença dos imigrantes e dos seus negócios "veio trazer uma nova vida", apesar de continuar a ser "endemicamente pobre".
Mas a adaptação não foi fácil. "Ali os estrangeiros não são só os chineses e os indianos e os africanos. As pessoas do bairro tratam os que vêm de fora [mesmo os portugueses] como se fossem estrangeiros. Há ali um bairrismo superarreigado." No caso dela, ajudou ter tido uma filha. Os vizinhos "passaram a ser mais simpáticos".
Um dos problemas que se arrastam tanto na Mouraria como noutros bairros lisboetas é o da recolha do lixo, por não existirem caixotes na rua. As juntas distribuem sacos aos moradores, que depois os colocam à porta. O cheiro torna-se insuportável. Para Cláudia, o poder local não tem contribuído para a resolução do problema, nem existe entre as freguesias do Socorro e de São Cristóvão um trabalho conjunto, apesar de as duas juntas estarem próximas: "Já me aconteceu ir à Junta de São Cristóvão levantar os sacos, por ficar mais perto da minha casa, e eles não mos darem porque não pertenço àquela junta", exemplifica. Acredita que com a reforma das freguesias vai passar a haver "um olhar para os problemas muito mais global e sistémico". Uma vez que considera existir uma interdependência que une as diferentes zonas de Santa Maria Maior, defende que "é preciso entender o núcleo do centro histórico como um elemento só".
Não é o medo de perder a identidade que faz os moradores de Alfama ou da Mouraria serem contra uma fusão tão grande, até porque as noções de "bairro" e de "freguesia" são diferentes. Cristina Correia explica que a agregação das 12 autarquias poderá ter falhas porque os "problemas de junta de freguesia da Mouraria não são com certeza os mesmos problemas das juntas da zona do Chiado", por exemplo. "Eles", diz Cristina, referindo-se aos moradores do Chiado, "são diferentes de nós, não tem nada a ver". Ao contrário do que se passa na Mouraria, "eles estão mais virados para o comércio e para o turismo".
Esse "ser diferente" é algo que existe em cada bairro. Em Alfama, o dono da sapataria Ondina, Vasco Santos, de 72 anos, explicava que a nova freguesia não poria em risco a identidade do bairro. "Existe um sentimento bairrista que é natural e que vai existir sempre, enquanto nós existirmos." Também a florista da Rua dos Remédios, Ermelinda Carapinha, não tem esse receio. Mas tem outro: "O bairro mantém-se, mas não se mantém este... achego."
João Seixas salienta que uma organização identitária vai além dos limites da freguesia: "Não há marcha de Santo Estêvão ou de São Miguel, há marcha de Alfama. Há marcha da Bica, que nunca foi uma freguesia. Lisboa é uma cidade de bairros. É talvez, em termos de proximidade, o seu maior activo identitário." E acredita que isso nunca vai desaparecer.
Para o investigador, está a nascer um novo paradigma, uma nova forma de encarar o poder autárquico. Esta é uma das maiores mudanças que João Seixas vê na reorganização das freguesias. "As freguesias têm origem nas paróquias. Aquela visão do sr. presidente da junta como pároco [está a sofrer] uma mudança de paradigma. O papel será sobretudo o da liderança [política]"
O geógrafo acredita que esta é uma reforma que "vai no sentido do enriquecimento da democracia" no que toca ao poder local, e que "daqui a alguns anos as pessoas vão começar a perceber o aumento da qualidade de vida na cidade". Apesar de, segundo João Seixas, esta reforma já ter sido aplicada em todas as outras capitais e grandes cidades europeias, é preciso bom senso, ressalva. "Temos de dar passos lentos e seguros, ou seja, temos de ser conservadores no progresso."
15.09.2013